terça-feira, 29 de abril de 2008

Estréia Uma Noite Quase Vazia (Quimeras de Teatro)

Serviço

Estréia 17 de julho, 19hs

Teatro Morro do Ouro (Anexo teatro José de Alencar)

Ingressos: 10,00 e 5,00

Censura: 18 anos

Duração: 1h10min

Capacidade do teatro: 90 lugares

Em cartaz dias 24 e 31 de julho.

Informações: (85) 8710 - 9434 / 87088173 / 8680 - 5492


SINOPSE DA PEÇA:


Uma Noite Quase Vazia tem influências detectáveis da obra Rodrigueana, ela passeia pelo inconsciente do homem, que ainda está permanentemente ligado ao passado. Seus personagens vivem uma realidade claustrofóbica onde suas ações são polarizadas e se mostram irônicas, moralistas e detratoras de sentimentos indefinidos.


Aurélia é uma mulher que conflita a religião e o instinto, e tenta a todo custo sustentar um casamento falido pela impercepção da convivência. Em contra partida, Olavo, seu esposo, movido a paixão, comete uma loucura que levará as personagens à reinvenção delas mesmas.



ELENCO:

Beth Fontenelle como Aurélia

Patrícia Bastos como Tereza

APRESENTANDO

Rommel Costa como Afonsinho

Rubem Ventura / Olavo

Samuel Moura / Irmão Messias

Levi Adonai / Nêgo

Bibi Mesquita / Antonia

PARTICIPAÇÃO ESPECECIAL

Gláucia Alencar


SOBRE UMA NOITE QUASE VAZIA


É um texto poético no tocante da palavra, Uma Noite Quase Vazia por si só tem sonoridade lapiante e cortante. Uma Noite tem mistérios, ela constrói e reconstrói seus personagens. Eles são de carne e osso, mas o enredo envolve seus elementos e signos numa teia umbilical onde o diálogo, apesar de compreensivo, não traz soluções. A tragédia é inevitável, o declínio da protagonista é determinante. Uma Noite Quase Vazia é promitente em sua construção sonora. A peça, ela passeia por pilares das descobertas e da fragilidade humana. Em sua construção cênica está o reflexo do ciclo da vida. Uma Noite Quase Vazia traz em seu âmago a palavra em execução, e esperou dez anos para ser levada aos palcos. E celebra os 14 anos do Grupo Quimeras de Teatro, e 15 anos de Antônio Marcelo á serviço do teatro. Disse o autor que em sua plenitude a peça é diferente das outras, que Uma Noite Quase Vazia não apela para a emoção, apesar dela está presente. Para ele, esse texto esmiúça o bom senso, recria os laços que ela mesma desfez e desfaz. Tudo isso dentro de um questionamento racional. A razão aparece explicitamente com uma estrutura incontestável. Aurélia e Olavo estão diante de uma separação iminente. Daí adiante os acontecimentos se sucedem e nada pode ser evitado. Os personagens, cada um deles tem seus motivos. E resta dentro de um possível restabelecimento a trajetória tratada e ainda a mercê do inevitável.

Mas cabe a pergunta: Seria Aurélia, a protagonista, uma vilã? Aurélia também é vitima. A loucura cometida por Olavo não justifica qualquer parâmetro aplicado pelo desequilíbrio. Dentro da trama, o caso Afonsinho teria por base a tentativa de aliviar a própria dor? Ou ele, Afonsinho, quis morrer para que Aurélia, sua mãe, fosse libertada? Nessa contextualização, a disputa de idéias e crenças é toda acirrada. Os personagens lutam em torno do convencer, da tentativa espiritual. Afonsinho ao morrer traz a mãe para a luz, fazendo com que ela venha á tona com uma identidade não governamentada por ela mesma. O fato é que o destino de Aurélia foi mapeado, e ela em seu desequilíbrio abstrato, mas aceitável, vai de encontro á inutilidade de suas constatações.

Aurélia necessita de psiquiatria? Mas aqueles que a cercam e estão envolta da crença cristã filosofam para ela, as regras a serem seguidas. E Aurélia assume o comando de ser comandada. O sexo em seu universo está obscuro, passa a ser um elemento satânico, e afogada em virtudes e princípios, ela cava seu próprio fim. Mas um final que também traga o sabor de renascimento. Aurélia perde mas com isso é desencadeada uma série de possibilidades para ela mesma. Olavo teria sido feliz, se ele tivesse atrasado suas ações alguns segundos. Mas isto é subjetivo. A objetividade não está ai. Ele morre no momento que Aurélia tenta enxergá-lo. Ou talvez fosse necessário ser assim. Os personagens possuem a superlatividade, mas aceitam passivamente serem escalados para funções sociológicas menores.

Uma Noite Quase Vazia tem um tremor no coração das personagens, um tremor na voz, na mão, na essência dos que se libertam e dos que se aprisionam. A trama é toda presente na atualidade. Mas tem amarras vindas do que de um todo se construiu lá atrás. Aurélia representa esse entrave, enquanto Afonsinho, ao meu ver é a mais bela construção cênica embora feita dentro de uma irrealidade, tem um que de um perceptível argumento expressionista. E Tereza se lança numa liberdade imprevisível dentro de um realismo perverso. A peça não guarda espaço para a fantasia. Tudo se mostra nu, tudo ainda cru na mente catalisadora de cada manifesto junto da conjuntura mitológica e mística que a obra apresenta. Há um elemento quase personagem que parecia desde o inicio ser intocável, que é a crença, mas ele, o elemento quase personagem crença vai fugindo no velo da trama, e se torna fugidio e fica questionável dentro de tudo aquilo que por ser, ou de repente nem de longe deveria ser. Mas esse elemento ainda indefinido ou esmiuçado poderia ser a coisa, a questão, o dardo a ser carregado ou abandonado pelos personagens. E o que somos? A identidade das personagens é arrancada delas mesmas, e é exatamente ai onde a trama é infalível. Tanto Aurélia quanto Tereza, Afonsinho, Olavo, Irmão Messias possuem em suas almas a dor que é expulsa silenciosamente. Nisto há uma vontade de liberdade que perpassa intrinsicamente e gritante.



NOITE VAZIA
NO FIO DA NAVALHA
FÉ INABALÁVEL
O PODER DO MITO HUMILDADE INCOMPREENDIDA
A QUEDA DOS MITOS

TRAGÉDIA ANUNCIADA